As coisas que eu faço são feitas para os olhos de alguém ver. Será
mesmo? Momentos chamados de inesquecíveis por alguns não dependem
intimamente de alguém para se tornaram aconchegantes. Los hermanos,
sábado. Praia, cheiro de praia, vento grudando sal na minha pele, pés
cavando a areia por mania de ter sempre areia gelada entre os dedos. E
vem a primeira música. Segundos para reconhecer a melodia, todo o show
para lembrar cenas das quais tais músicas viraram trilha sonora.
Trilha sonora...engraçado falar disso como se nossa vida fosse uma
novela e tivesse alguém segurando um controle esperando a hora de soltar
a música. Dói perceber que isso não acontece. Dói não ter uma música
bonitinha embalando os inúmeros primeiros beijos com
os inúmeros primeiros amores. O tempo caminha e felizmente, talvez,
para-se de esperar o play e depois, em casa, escuta-se uma música e com
toda a consciência lembra-se de alguém e fica. Fica pra lembrar, pra ter
saudade, pra dar sorrisos pensativos. Fica pra fazer chorar, pra ter
mais saudade, pra lembrar de não escuta-lá mais. É assim. Alguns
encontros são muros lisos e bem pintados que possuem vidros estilhaçado
lá em cima. Uma armadilha, quem sabe. Ao se ir além, se ver cortado e
pingando sangue num mar que era só de rosas brancas. Encontros e
desencontros. Encontros e vidro perfurando, ferindo, doendo.
Recuperação, curativo e muro liso e bem pintado, novamente. É meio
drástico falar assim, porém mais detalhado, e do mesmo jeito que dói
saber que nossa vida não tem controle é saber que o amor é flor. Uma
semente que nasce, cresce, fica linda, murcha e antes de morrer solta ao
vento grãos de pólen para que se possa amar mais uma vez.
Aprendi que não é preciso fazer tudo por todo mundo. Aprendi que
felicidade é um tipo de presente. Aprendi que mágoas também são
presentes, de grego, da onça, mas são presentes. E assim como presentes,
a gente recebe sem pedir, em dias inesperados, ou com data marcada.
Assim como presentes, a gente recebe de quem está ao nosso lado e de
pessoas distantes que insistem em dizer, erroneamente, que é apenas uma
lembrancinha. Não é só apenas uma lembrancinha, como é o que fica, o que
permanece, o que importa. Presentes enfeitam uma estante, lembranças
abraçam o coração, animam nossos pensamentos em dias nublados e não têm
data de validade. Presentes dados por alguém que nos machucou é jogado
fora, é escondido, é quebrado. Lembranças dadas por alguém que nos
machucou, continuam sendo lembranças, boas ou ruins, por mais que
tentemos matá-las. São elas, justamente, as lembrancinhas que duram.
As coisas que eu faço são feitas para os olhos de alguém ver. Será
mesmo? Não é melhor corrigir para: as coisas que eu faço são feitas para
os olhos de alguém sentir? Num será assim? Talvez. Você quem decide.
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